Resenha de “Eu, Robô”, de Isaac Asimov

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Isaac Asimov (1920-1992) é um escritor que faz parte de um grupo de talentosos autores que imaginaram diversos cenários do futuro. Mesmo pintando um planeta totalmente futurista, ele vai no mais íntimo, demonstrando que não mudamos nossa essência. Sempre teremos certos impulsos que podem atrapalhar nossos avanços. Porém, o espelho sobre nosso comportamento está na invenção dos robôs, foco dos nove contos deste livro que se interligam de certa maneira. Usando as memórias da robopsicóloga Susan Calvin.

Robbie

A estória mais antiga se passa durante os dias dos robôs serviçais mudos. E o Robbie era um deles. Leal e encantador, serve de companhia para a doce criança Gloria, que adora brincar com ele, o seu melhor amigo. Porém, a mãe de Glória tem outros planos. Este conto já mostra o quão importante estava se tornando esta tecnologia, esta companhia que já gera seus primeiros debates. Um robô está vivo? O que faz algo ou alguém estar vivo? E este é só o começo…

Brincadeira de Pegar

E então somos apresentados aos azarados Gregory Powell e Mike Donovan, que estão no começo da exploração interplanetária no extremamente quente planeta Mercúrio. Um novo modelo de robô chegou, chamado de Speedy, e ao ser mandado para buscar um certo minério, não voltou mais… Aqui, somos pela primeira vez apresentados a um dos dilemas das três leis. Uma entrou em conflito com outra, e o pobre Speedy enlouqueceu no processo de cumprir o que foi ordenado. E a solução ousada, mostra como ideias e coragem são duas coisas que sempre estão caminhando juntas.

Razão

Alguns anos mais tarde, os dois amigos azarados são colocados em outra situação incomum. Prestes a serem substituídos no comando de uma Estação Espacial que previne diversos problemas à nossa Terra. Ao instruir o peculiar robô QT-1, eles são surpreendidos pela indagação questionadora do robô que não aceita o fato de ter sido criado por seres inferiores como os humanos. Asimov brinca com filosofia e religião, com argumentos cheio de lógica, mas com um humor ácido mostrando que até mesmo os robôs são essencialmente religiosos, assim como os humanos, seus criadores. Todos estes conceitos complexos são trazidos a vida com simplicidade e inteligência características do escritor.

Escrevendo com Imagens: Robbie - I Robot

Pegar o Coelho

Agora, o par de amigos tem outra situação ainda mais incomum. Explorando um asteroide, eles tem novamente um novo modelo de robô para instruir. Este modelo controla outros seis robôs remotamente, como se fossem dedos de sua mão, agilizando assim a exploração nos túneis construídos, porém, quando os humanos viram as costas, os robôs começam a brincar de marcha-soldado. O dilema não é muito complexo, porém até o mais simples necessita de muita reflexão para ser compreendido.

Mentiroso!

A robopsicóloga Susan Calvin agora conta uma estória que aconteceu com ela anos antes. Um robô único acabou sendo criado com uma peculiar habilidade: ler pensamentos. E o conselho da U.S. Robôs e Homens Mecânicos S.A. precisam descobrir como que foi criada tal invenção sem precedentes. Entretanto, como o ser humano é corrupto por natureza, a curiosidade de saber o pensamento um do outro vence a competição e o que se segue é uma confusão sem limites. Logo na primeira estória protagonizada pela Srta. Calvin, temos um caso que revela diversas camadas antes escondidas na fria personagem, nos cativando em meio às tragédias sofridas.

Pobre Robô Perdido

A U. S. Robôs quer começar com o ramo de viagens intergalácticas, porém, um contratempo impede tal fato de acontecer. Na construção do plano hiperatômico, um certo robô acabou se perdendo e reapareceu junto com a entrega de diversos robôs iguais a ele. Então, o matemático Dr. Peter Bogert e a Dra. Susan Calvin são chamados para ajudar a determinar qual é o robô perdido que voltou. O dilema entre as três leis é ainda mais complexo, com descobertas impactantes que a doutora vai fazendo durante o conto. E é aqui, que é reforçada uma característica que parece ser apenas de Asimov. Ele determina as regras de seu universo e então brinca com elas, chegando a beirar a quebra de tais regras, mas, dando soluções que são condizentes com o que criou. Lição de literatura.

Resenha de "Eu, Robô", de Isaac Asimov

Fuga!

A concorrente da U.S. Robôs teve um problema que o seu superrobô não foi capaz de resolver, e inclusive, acabou se quebrando no processo de resolução desse. Então, o problema foi jogado para US Robôs com um acordo que interessava ambas as partes. O problema é apresentado com calma para o Cérebro, o superrobô da empresa, que precisa solucionar e lidar com os dilemas apresentados. Se solucionado, a empresa finalmente resolverá suas barreiras sobre as viagens intergalácticas, mas a qual custo? A forma que são apresentados, dilema e solução, brinca com suas percepções e indagações, referenciando Arthur C. Clarke e colocando os amigos Powell e Donovan em outra situação de risco.

Prova

Um humano candidato a prefeito tem sua humanidade questionada. Não por ser um monstro, mas por ter uma moral parecida com a de um robô decente. E então, Asimov brinca com o leitor, nos fazendo perguntar: Ele seria um robô ou um humano muito bom? Dra. Calvin tenta decifrar o candidato, entretanto, a ira do púbico com a possibilidade dele ser um robô, deixa o mundo sem paz. Por qual razão a humanidade tem este medo? O que é preciso fazer para provar a sua humanidade? Seria tão ruim assim um robô no poder? Estas indagações te acompanham até depois do final deste conto.

Conflito Evitável

As Máquinas estão no poder do mundo. Isso mesmo, aceite. As máquinas são robôs sem personalidade, que apenas calculam as melhores alternativas para os governos do mundo fazerem suas ações. Aqui, conhecemos como está dividido o mundo e como são a política e a economia. E cabe ao coordenador mundial, com o conselho da Dra. Calvin, tomar a melhor decisão sobre uma aparente falha de todas as máquinas destas regiões. Entretanto, o maior problema pode estar em outro lugar e o curso de ação pode ser nenhuma das opções apresentadas. Brincando com propósitos, destino e personalidades, Asimov eleva os seus conceitos robóticos a um ambiente macro que irá te deixar ou assustado ou esperançoso. Talvez nenhum dos dois.

Isaac Asimov trabalha muito bem seus personagens, dando-lhes camadas de profundidade, os desenvolvendo enquanto a estória é aflorada. Sua escrita é simples, inteligente, fluída e dinâmica, te fazendo pensar bem sobre cada dilema apresentado e dando uma solução coerente com pitadas de humor bem colocadas. Seus contos mostram como podemos desenvolver nosso campo de robótica e como criar estórias, desta maneira criativa e nada clichê. Mais uma aquisição obrigatória para a estante de qualquer leitor fã de ficção científica e de boas estórias.

Caíque Apolinário
Caíque Apolináriohttp://bookstimebrasil.com.br
(elu/delu - ele/dele) Escritor de quatro livros de ficção cientifica e host de alguns podcasts do portal. Viciado em café, multi tarefas e o suporte de toda a equipe.

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